Há pouca coisa real atrás das nuvens de um otimismo “fake”, propulsado pela mídia engajada numa simbiose de interesses de fundos de investimentos que ostentam prosperidade inigualável em seus índices de crescimento.
A economia brasileira não tem elementos de crescimento, que, ou vêm da demanda que depende da renda da população, ou vêm de investimento que depende do Estado ou do mercado, investimento esse em ativos físicos e não em títulos da dívida ou ações já existentes, que não geram emprego novo ou desenvolvimento.
Ajustes e reformas não são um plano econômico
Ajustes orçamentários e reformas burocráticas não são propulsores de crescimento por si só. O Brasil tem uma vasta população, cerca de 170 milhões de pessoas, que são das classes pobres, muito pobres ou miseráveis. Essa vasta parte da população tem carências substanciais de educação, saúde, saneamento, moradia e mobilidade urbana e essas carências só poderão ser atendidas por investimento público. Não há como o investimento privado atender a essas necessidades. Para isso é necessário um plano econômico com começo, meio e fim que sequer foi elaborado pelo atual Governo, o qual se limita a um roteiro de ajustes e reformas que avançam lentamente e jamais serão o motor de arranque de um projeto de país.
Os grandes valores não aproveitados
O Brasil tem enormes recursos físicos concretos inaproveitados e que somente poderão ser mobilizados por iniciativa de Estado.
1. Mão de Obra. Mão de obra ociosa é uma perda econômica concreta, pessoas que podem trabalhar e estão paradas significa riqueza não produzida. É uma perda real, econômica que o país não está capitalizando, perda essa que poderia ser resgatada por políticas públicas que agregassem esse fator.
2. Recursos Ambientais – O Brasil é a maior potência ecológica do planeta e não está aproveitando economicamente esse tesouro. A riqueza ambiental é hoje financeiramente valorada nos fóruns mundiais e em pouco tempo irá suplantar o conceito de riqueza monetária papel.
No último Fórum Econômico Mundial em Davos a questão ecológica foi o centro da pauta do evento e o Seminário sobre a Amazônia foi o mais importante entre todos, com o Presidente da Colômbia representando a Amazônia, porque o Governo brasileiro se retirou dessa agenda, desprezando uma incalculável riqueza geopolítica e econômica que fortaleceria o País frente ao poder global, estimulando investimentos.
Os maiores fundos mundiais estavam presentes, como BlackRock, Vanguard e Fidelity Johnson. Só esses três, têm US$16 trilhões em ativos, têm pauta ambiental sólida para selecionar países e projetos onde investir, o Brasil desprezou e antagonizou esses valores centrais na determinação do crescimento.
O atual Governo brasileiro demonstra ao mundo seu desprezo ostensivo à questão ambiental, fato que custa ao Brasil a liderança dessa causa no planeta. O País é o detentor da maior floresta tropical, sendo ao mesmo tempo o maior exportador de alimentos, fatos que em conjunto dariam ao Brasil uma incontestável vantagem a ser capitalizada em várias frentes, a começar pela geopolítica e terminando pela econômica e financeira.
Esse imenso capital foi jogado fora pela ignorância, por uma ideologia primitiva e pela incapacidade de liderança internacional, o que levou o Brasil a ser afastado dos principais painéis de discussão em Davos, como já foi em outros eventos internacionais.
3. Política Econômica como Projeto: Não há no atual Governo uma política econômica como tarefa de coordenação de linhas de ação na área monetária, fiscal, creditícia, cambial e especialmente de investimentos públicos. Não existe nenhum plano de metas integradas entre os vários Ministérios, como fez em 1956 o presidente Juscelino Kubitschek com suas 30 metas, cada qual coordenada por um Grupo de Trabalho. Sem uma política econômica não há projeto de crescimento e este não virá porque não há um fator que impulsione ou dê base a esse crescimento.
A atual situação econômica mundial
Nas projeções do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, a primeira mais otimista que a segunda, o PIB Mundial deve crescer entre 2% e 3%, projeções que são meros prognósticos que historicamente ficam abaixo do projetado porque fatores de incerteza são desconhecidos e raramente operam para cima nas projeções.
Seguindo a linha mais realista do Banco Mundial, o mundo deverá crescer 2,5% em 2020, mesma projeção que a equipe econômica traça para o Brasil e que se realizada será muito menor que a média histórica do País entre 1950 e 1980 e muito menor do que o Brasil precisa para:
A. Recuperar a perda de PIB desde 2014, perda real e significativa acumulada de 10%, significando empobrecimento da população, e
B. Atender as enormes carências de educação, saúde, saneamento e moradia, além e principalmente de emprego e renda de 70 milhões de brasileiros. Portanto, um crescimento de 2,5% se atingido será insuficiente para o passivo acumulado de não crescimento.
A economia mundial está em modo pessimista pela desastrada atuação do presidente Trump no seu confronto com a China para criar factóides como material de campanha. As ações de Trump contra a China e no Oriente Médio geram um clima de pessimismo que contamina a economia mundial. Nesse contexto o Brasil tem pouca margem de manobra para aumentar exportações e atrair investimentos externos, meta maior do atual Governo.
A economia brasileira em 2020
A única ação do atual Governo na economia é no campo de medidas provisórias e de projetos de lei, como se isso fosse o total de uma política econômica.
A atual equipe econômica opera por ideologia e não por plano econômico. A ideia fixa e única é aumentar o espaço do mercado à custa do espaço público, reduzir a zero os investimentos públicos e fazer cortes ao infinito nos gastos com a população carente do País, bloqueando concessão de Bolsa Família, de aposentadorias, auxílio-maternidade, auxílio por invalidez, seguro desemprego, já com dois milhões de desesperados nas filas de espera sem uma solução à vista, tudo comemorado pela mídia conservadora como redução do déficit primário de R$139 bilhões projetados para R$76 bilhões realizados em 2019, à custa de cortes em todos os programas sociais e nada no andar de cima.
Os cortes atendem aos desejos do mercado financeiro e apenas desse segmento, além do efeito perverso sobre a população que necessita mais do que nunca dos serviços públicos. Esses cortes reduzem a demanda porque significam menos renda para consumo e com isso afetam o PIB, cuja projeção oficial para 2020 dificilmente se realizará porque não há perspectiva de investimento privado na economia produtiva, visto esta estar com capacidade ociosa em todos os setores.
Os investimentos pretendidos pelo Ministério da Economia em concessões e privatizações não geram efeitos na economia produtiva, são meras transferências de propriedade sem efeitos no emprego e no crescimento, ao contrário, as privatizações em geral produzem desemprego.
O crescimento de 1,1% no PIB de 2019 se deveu exclusivamente à baixa dos rendimentos na renda fixa em função da redução da taxa Selic, o que fez migrar recursos aplicados em CDBs para o mercado imobiliário, principal gerador do incremento do PIB em 2019 e não a indústria, que teve resultado negativo em 2019 e muito mais negativo ainda se excluídos os setores de mineração e petróleo.
A indústria manufatureira teve péssimo desempenho em 2019, nada indicando melhora em 2020. Os efeitos da redução da taxa Selic, apontados para 2019, não se repetirão em 2020, quando dificilmente haverá nova baixa da Selic, considerando sinais de repiques de inflação, já no final de 2019.
Portanto não há nenhum fator novo que sustente uma projeção de 2% a 2,5% de crescimento de PIB para 2020, registrando-se que os prognósticos do chamado Boletim Focus do Banco Central têm errado para cima na projeção do PIB, desde 2015. Há uma tendência do mercado financeiro, de onde vem os informantes do Focus, em superestimar o crescimento da economia, porque disso depende segurar seus clientes nas aplicações.
Quanto ao desemprego, nada indica melhora substancial em 2020. As estatísticas oficiais estão sendo otimizados por incremento dos chamados “autônomos”, um subemprego na informalidade disfarçado em entregadores de comida e assemelhados, que entram nas estatísticas oficiais como novos empregos, quando na realidade são ocupações de jovens desesperados sem trabalho, que arriscam a vida diariamente em motos para ganhar míseros trocados ao fim do dia, sem perspectivas de carreira, educação, treinamento e futuro. São 30 milhões de jovens de 18 a 30 anos no “desvio” Brasil.
As incertezas na economia mundial
O horizonte da economia mundial em 2020 é de incertezas e nada otimista. Entre os fatores estão as eleições nos EUA, que em qualquer dos resultados produzirá cenários incertos. A reeleição de Trump será encarada com pessimismo no resto do mundo e o estilo confrontacionista de Trump trará novos abalos na economia mundial. Se os Democratas vencerem, toda a geopolítica americana no mundo será alterada e na acomodação de um novo desenho haverá um espaço de incertezas, quando a economia sofrerá. Os CEOs das grandes corporações americanas estão mais pessimistas para 2020 do que nos últimos oito anos, são dados reais de uma pesquisada recente da revista FORTUNE, a maior porta voz do empresariado americano,
Link a seguir: https://fortune.com/2020/01/20/2020-economic-growth-rate-forecast-ceos/ o que é uma percepção de quem está na vivência concreta do mundo dos negócios e não de simples economistas de mercado, especialmente os que trabalham em fundos e bancos de investimentos. Eles têm um viés de projeção para cima, para estimular investidores com clima de otimismo e com isso proteger seus “bônus”.
Os economistas ligados ao mercado financeiro não são faróis da realidade, eles vivem de vender o pote de ouro no fim do caminho e, no entanto, são os mais ouvidos pela mídia tipo GloboNews, que em 2019 ou nos anos anteriores jamais ouviu um fabricante de camisas ou um dono de metalúrgica para saber como vai a economia. Os “astros” dessa mídia são 100% vinculados ao mercado de fundos e bolsa.
O grande erro da “não política econômica”
O Brasil em 2020 não tem política econômica boa, média ou ruim, pois não tem política alguma. Cortar, ajustar e reformar não é política econômica.
Há um imenso espaço nos recursos humanos, industriais e naturais do Brasil para um projeto de investimentos públicos em infraestrutura de US$1 trilhão a US$ 2 trilhões. Existem recursos internos monetários a realizar e recursos internacionais disponíveis a mobilizar se houver projetos de investimentos reais e não simples privatizações, que são meras transferências de propriedade sem investimento real em ativos que geram empregos.
O atual governo brasileiro carece de credibilidade para atrair investidores da economia real de longo prazo. Todos os apelos são para investidores financeiros de curto prazo, os chamados “abutres” à cata de oportunidades e ativos na bacia das almas. É o mundo do ministro Paulo Guedes, que não dialoga com os investidores da economia real, pois eles não são os que transitam exclusivamente pelo mercado financeiro, único alvo da atual equipe econômica. Não fizeram o que JK fez, visitar indústrias para mostrar o mercado brasileiro. JK trouxe 200 empresas para o Brasil.
É preciso ver além das brumas
As análises políticas do atual quadro brasileiro se recusam a ver além das brumas e a mídia opera na base do explicar elogiando a equipe econômica de ajustes e cortes do Ministério do não crescimento, como se isso fosse o total da economia.
O Brasil parado, a população sem renda e uma reduzida camada de rentistas sendo o único objeto de atenção de um Ministério agigantado e dirigido por amadores sem tradição em políticas públicas, aplicando um sub-neoliberalismo fake de roupagens chilenas, onde explodiu pelo fracasso monumental. No Chile se aplicou a mesmíssima política que se aplica hoje no Brasil. Todos os serviços públicos privatizados e caros e a população sem renda para pagar. Esse é o ato final de uma ideia econômica que se pretende a bandeira do atual esquema de poder no Brasil. O fracasso chileno em nada alterou a ideia desse grupo, fazem de conta que o Chile fica em Marte e não nos diz respeito, quando até ontem o Chile era citado como exemplo nobilitado para o Brasil.
Fonte: Bonifácio
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