De motos, bicicletas e alguns a pé. Trabalham sem quaisquer direitos para empresas como iFood, Uber Eats, Rappi. Grandes empresas internacionais. Muitos, sete dias por semana. Por vezes ganham por entrega de 2 a 3 reais. Não tem nenhum vínculo empregatício, direitos, alimentação, plano de saúde, nem manutenção de seus veículos. Parte deles chega a ficar 12 horas por dia a espera dos pedidos. A ampla maioria mora nas periferias. Os que nos garantem a entrega da alimentação em casa, passam fome nas ruas. Essa é a realidade dos entregadores de aplicativos.
Com a intensificação do trabalho durante a pandemia, a superexploração pela qual passam ficou exposta à sociedade. Mas eles estão dando um basta. Começaram a participar das mobilizações anti-Bolsonaro, que aconteceram em dois finais de semana e tem novas marcadas para o próximo. Surgiu o grupo Entregadores Antifascistas que já recolheu mais de 300 mil assinaturas e espera atingir 500 mil. “Aplicativos de entrega, distribuam alimentação e álcool em gel para os motoboys!” é o titulo da iniciativa. O idealizador da organização da categoria e quem promoveu o abaixo assinado é Paulo Lima, 31 anos, conhecido como Galo, e mora na periferia paulista.
No abaixo assinado denuncia: “Nós, motoboys, continuamos com as entregas no meio dessa crise do coronavírus e estamos enfrentando muitos riscos. Todo mundo está em casa se isolando em quarentena, mas nós ficamos nas ruas o dia inteiro, na batalha para garantir as entregas de delivery, colocando a nossa saúde e de nossas famílias em risco. Estamos trabalhando largados à nossa própria sorte e sem nenhuma medida de prevenção e proteção das empresas de aplicativos que fazemos as entregas, como Rappi, iFood, Loggi, Uber Eats, 99Food e James”.
Galo toca real da crueldade imposta pelo sistema capitalista: “Não temos condições de comprar álcool em gel e arcar com a alimentação na rua em meio a essa crise do coronavírus”.
É necessário lembrar que o presidente Bolsonaro retirou a categoria dos que estavam aptos a receber o auxílio emergencial de R$ 600, o que os obriga a viver nesta situação vexatória.
Existem dois segmentos de entregadores de aplicativos: os que usam motos e os que usam bicicletas, além dos que fazem a entrega a pé. Os ciclistas, além de demorar mais para fazer as entregas, exercem um trabalho ainda mais exaustivo. Mas estão juntos na luta por mais direitos.
Em 7 de maio, a BBC News Brasil divulgou uma pesquisa realizada pela Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) em quatro estados brasileiros que ouviu 252 pessoas de 26 cidades entre os dias 13 e 20 de abril por meio de um questionário online.
Na pesquisa consta que entre os entrevistados, 60,3% relataram uma queda na remuneração, comparando o período de pandemia ao momento anterior. Outros 27,6% disseram que os ganhos se mantiveram e apenas 10,3% disseram que estão ganhando mais dinheiro durante a quarentena.
De acordo com a matéria, os pesquisadores dizem ser “possível aventar que as empresas estão promovendo uma redução do valor da hora de trabalho dos entregadores em plena pandemia e sobremajorando seu ganho a custa do trabalhador”.
O fato de não ter nenhum direito os leva a reivindicar questões básicas com o fim da pontuação arbitrária feita pelas empresas de apps, melhores valores na corrida e taxa mínima, já que chegam a receber R$ 2 por entrega dependendo da distância, e o fim dos desligamentos sem motivo, uma vez que as empresas bloqueiam e desligam os trabalhadores sem dar satisfação.
“Eu mesmo, esses dias, fui entregar o lanche pra um cliente que tinha covid-19. Aí ele reclamou que eu não quis subir, e eu fiquei bloqueado por dois dias [pela empresa]”, disse um dos entregadores que participou de um protesto da categoria nesta terça-feira na avenida Paulista, em São Paulo.
Outro reclamou: “Simplesmente bloqueia e não fala mais nada. Diz que assim ó: Não temos obrigações trabalhistas com você, o dia que a gente quiser bloquear, a gente vai bloquear e não vai ter seguro desemprego nem nada”.
Assista ao vídeo do protesto publicado pela Treta do protesto na Paulista:
https://www.facebook.com/tretanotrampo/videos/719366848880686
É essa a situação que parte da classe trabalhadora vem enfrentando no Brasil. Após sucessivos ataques aos direitos e as reformas trabalhistas já em governos anteriores, mais recentemente Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, vêm colocando uma pá de cal na regulamentação do trabalho e direitos, com total precarização e aumento dos índices de pobreza no país. Nem mesmo na pandemia, o governo Bolsonaro se isentou de retirar direitos, permitindo demissões e rompimentos de contratos sem nenhuma garantia aos trabalhadores e trabalhadoras. Ao invés de garantir renda a todos, o governo preferiu conceder isenção de impostos e medidas para favorecer os empresários à custa de redução de direitos dos trabalhadores.
“A CSP-Conlutas manifesta total apoio à mobilização dos entregadores de aplicativos e contribuirá para que ressone essa luta em todo o país”, afirma o dirigente da Secretaria Executiva Nacional da Central Atnágoras Lopes.
Fonte: CSP-Conlutas – 11/06/2020
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