Quatro anos atrás, em primeiro de fevereiro de 2020, trabalhadoras e trabalhadores da Petrobrás e subsidiárias atenderam ao chamado da FUP e paralisaram suas atividades em todo o país, dando início à segunda maior greve da história da categoria.
O estopim foi o anúncio do fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados de Araucária (Fafen-PR), com a demissão sumária de cerca de mil trabalhadores que atuavam na unidade. A greve, que durou 21 dias, ganhou apoio nas ruas e nas redes sociais, em um movimento nacional de solidariedade à luta da categoria em defesa dos empregos, por preços justos para os combustíveis e contra o fatiamento e a venda aos pedaços da Petrobras.
Quatro anos depois, pesquisa realizada pelo PoderData, divulgada neste primeiro de fevereiro, aponta que a grande maioria dos brasileiros é contrária à privatização da Petrobrás. A pesquisa ouviu eleitores de todo o país, entre os dias 27 a 29 de janeiro, logo após o presidente Lula ter enfatizado a importância da estatal brasileira durante a sua participação na cerimônia de retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, uma das unidades que o governo Bolsonaro tentou privatizar.
O levantamento feito pelo PoderData revela que menos de um terço dos entrevistados foi favorável à privatização da Petrobrás. Das 2.500 pessoas consultadas em 229 municípios dos 26 estados e Distrito Federal do Brasil, 57% afirmaram que a empresa deve continuar sob o controle do Estado, 27% disseram que deve ser privatizada e 16% não souberam responder.
Para o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, a pesquisa reforça a relevância estratégica da luta da categoria petroleira contra a privatização da Petrobrás e em defesa do patrimônio público. “É motivo de nós, trabalhadores, comemorarmos a percepção da sociedade brasileira de que a Petrobrás deve ficar sob o controle do Estado”, afirmou.
Ele ressalta a importância das petroleiras e dos petroleiros seguirem mobilizados e pressionando o governo a reabrir a Fafen-PR e retomar para o Sistema Petrobrás as unidades que foram privatizadas no governo Bolsonaro, como a Rlam (Bahia), a Clara Camarão (RN), a Reman (AM) e a SIX (PR).
Greve mobilizou o Brasil
A greve da categoria petroleira em fevereiro de 2020 foi o primeiro grande enfrentamento da classe trabalhadora contra o desmonte do Estado brasileiro promovido pelo governo Bolsonaro.
Além da adesão massiva em todo o Sistema Petrobrás, a greve foi marcada por duas estratégias de luta que entraram para a história da categoria. Em Araucária, petroquímicos e petroleiros acamparam por 31 dias em frente à Fafen PR, se revezando em uma vigília permanente para impedir o fechamento da fábrica. Já na sede da empresa, no Rio de Janeiro, quatro dirigentes da FUP e um diretor do Sindiquímica PR ocuparam por 21 dias uma sala do andar da Gerência de Recursos Humanos, cobrando negociação para preservar os empregos dos companheiros petroquímicos.
A solidariedade foi outra marca da greve de fevereiro de 2020. No terceiro dia de paralisações pelo país afora, um grande acampamento foi montado pelos movimentos sociais em frente à sede da Petrobrás, na Avenida Chile, no Rio. Petroleiros, petroquímicos e diversas organizações populares permaneceram em vigília, dia e noite, até o final da greve, realizando diversas atividades em apoio e solidariedade à luta da categoria contra as demissões e em defesa da soberania energética.
As ações solidárias dos petroleiros, com doações e venda subsidiada de combustíveis a preço justos, começaram também na greve de 2020 e se transformaram na principal estratégia de luta da FUP e de seus sindicatos contra a vergonhosa política de preço de paridade de importação (PPI) que enriqueceu os acionistas da Petrobras no governo Bolsonaro, às custas do empobrecimento da população, que chegou a pagar mais de 120 reais por um botijão de gás.
Reabertura da Fafen PR e retorno dos demitidos são prioridades
Apesar da forte resistência da categoria e das denúncias feitas pela FUP e seus sindicatos, a gestão bolsonarista da Petrobrás seguiu adiante com o projeto de desmonte e desnacionalização da empresa. O fechamento da Fafen-PR impactou a vida de mil famílias de trabalhadores, que foram demitidos nos meses seguintes. Muitos deles até hoje ainda estão sem um emprego formal. O fechamento da fábrica também afetou a economia da região de Araucária e aumentou a dependência do Brasil das importações de fertilizantes nitrogenados.
Desde 2020, a FUP e seus sindicatos vêm se mobilizando para reabrir a Fafen e garantir a recontratação dos trabalhadores demitidos. Em 2022, em reunião com o então candidato Lula e sua equipe de campanha, as lideranças sindicais petroleiras tiveram o compromisso de que a unidade seria reaberta e a Petrobrás voltaria a ter protagonismo no setor de fertilizantes.
Cm a eleição de Lula, a esperança foi renovada e a expectativa dos trabalhadores era de voltar a pisar o chão da fábrica, reconquistando a dignidade e seus empregos para que voltassem a contribuir com o desenvolvimento do país.
No entanto, passado um ano de governo, a Fafen PR ainda segue hibernada, apesar dos diversos compromissos assumidos pela atual gestão da Petrobrás de que a fábrica será reativada.
No último dia 24, em reunião com gestores da Petrobrás e da Araucária Nitrogenados (ANSA), a FUP e o Sindiquímica tornaram a cobrar o início imediato do processo de reativação da Fafen PR.
Os representantes da empresa informaram que a Diretoria Executiva aprovou a estruturação da área de fertilizantes nitrogenados, dando sequência às deliberações do novo Plano Estratégico, que garantiu o retorno da empresa ao setor, a partir da reabertura da Fafen PR, da retomada das Fafen’s BA e SE e da conclusão das obras da Fafen MS.
As lideranças sindicais enfatizaram a necessidade de readmissão dos antigos empregados da ANSA para que a reativação da fábrica ocorra em segurança, dada a larga experiência desses trabalhadores, que atuaram por mais de uma década na manutenção e operação da planta.
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Em novembro do ano passado, a FUP e o Sindiquímica apresentaram um parecer jurídico à Diretoria Executiva de Processos Industriais e Produtos da Petrobrás, recomendado que a retomada da Fafen PR seja realizada pelos ex-empregados, dada a preocupação com a segurança operacional da fábrica, que está hibernada desde 14 de janeiro de 2020.
Essa questão será, inclusive, objeto de debate na audiência de conciliação que será realizada sexta-feira, 05/02, com representantes da Petrobrás e da ANSA, no Tribunal Superior do Trabalho (TST). A reunião foi convocada pelo ministro do TST, Maurício Godinho Delgado, em resposta à Ação Civil Pública em que os trabalhadores denunciam a Araucária Nitrogenados por danos morais e ambientais. A denúncia foi acolhida pelo Ministério Público do Trabalho do Paraná, que também participará da audiência.
Ninguém ficará para trás
Para a FUP, é prioridade absoluta que os trabalhadores demitidos no cruel e criminoso processo de fechamento da Fafen PR sejam readmitidos. “Além de terem sua dignidade resgatada, esses companheiros são fundamentais para que a retomada da nossa fábrica ocorra em total segurança”, afirma Ademir Silva, um dos demitidos e atual diretor da FUP e do Sindiquímica PR.
Durante a cerimônia de retomada das obras de ampliação da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o presidente Lula mandou um recado direto para Jean Paul Prates, presidente da Petrobrás: “uma coisa que você tem que fazer, tente descobrir cada funcionário que foi mandado embora daqui e traga ele de volta”.
Lula afirmou que sabe “o que os sindicatos de petroleiros e a FUP passaram” e reiterou que “o nosso lema é ninguém solta a mão de ninguém e ninguém deixa um companheiro para trás”.
A categoria petroleira continuará lutando para que isso de fato aconteça em todo o Sistema Petrobrás.